A finalidade do Movimento escutista é “contribuir para o desenvolvimento dos jovens ajudando-os a realizarem-se plenamente no que respeita às suas possibilidades físicas, intelectuais, sociais e espirituais, quer como pessoas, quer como cidadãos responsáveis e quer, ainda, como membros das comunidades locais, nacionais e internacionais”.
(in Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista – Artigo I)
Consegue fazê-lo através do sistema criado por B-P entretanto apurado e aprofundado durante mais de um século, a que damos o nome de Método Escutista. Este método, a nossa forma de educar, é único e genial e tem dados provas disso mesmo ao longo de mais de cem anos de existência. É o segredo de bem fazer Escutismo!
Neste Método, a partir da forma como as crianças, os adolescentes e os jovens se relacionam, são exploradas diferentes opções educativas que realçam as aprendizagens uns com os outros e potenciam experiências educativas e significativas, tais como:
- o alargamento de horizontes;
- o partir da imaginação para chegar à realidade;
- o crescimento em pequenos grupos;
- a interiorização de regras sociais;
- o incentivo a ser cada vez melhor.
- o ambiente privilegiado de aprendizagens;
- a relação de confiança com o adulto.
Estas são as bases: as Sete Maravilhas do Método Escutista:
Em cada secção, cada uma destas “Sete Maravilhas do Método Escutista” deverá ser aplicada de modo distinto, de acordo com as caraterísticas próprias de cada faixa etária e tendo em conta o grau de autonomia, maturidade e responsabilidade de cada criança, adolescente ou jovem.
As crianças estabelecem uma ligação direta e genuína entre a observação e a imitação, ou seja, tendem a realizar e fazer acontecer por imitação e sugestão, para depois interiorizar, questionar e querer saber o porquê das coisas. Até lá, regras e valores fazem parte da sua vida, tão naturalmente como respirar, assim que lhes sejam propostos, claro. Que os Valores estejam implícitos, para mais tarde serem descobertos.
A Lei da Alcateia é, ao mesmo tempo, um símbolo e uma proposta. É um Símbolo porque evoca a Alcateia de Seiôuni, uma sociedade de lobos, que são respeitados na selva pela sua Lei e pela forma como a cumprem. Daí a designação Povo Livre. Sem Lei, não há Liberdade. Tal como os Banderlougues, povo sem Lei, que são escravos da sua própria desordem e confusão. É uma Proposta porque explicita o que queremos atingir, ou seja, a Proposta Educativa do Escutismo em conceitos e palavras simples que as crianças conseguem compreender.
As Máximas são um apelo positivo a uma forma de estar, pura e fraterna, numa linguagem que os Lobitos compreendem e sabem como fazer acontecer no dia-a-dia:
- pensar no seu semelhante e não apenas em si próprio,
- saber ver e ouvir tudo e todos à sua volta,
- ser asseado e arrumado e viver de forma saudável,
- ser verdadeiro: pensar, dizer e viver em Verdade;
- viver em alegria e buscar a felicidade.
Na Promessa, há uma afirmação de disponibilidade, uma expressão de liberdade, mais do que um desejo: um querer. Quando afirmam “Queremos ser Lobitos!”, as crianças sabem que a palavra dada é uma escolha, um compromisso, uma promessa que vai se cumprida com a ajuda da Lei e das Máximas. “Da Melhor Vontade!”
A Mística é o rumo que traçamos para a felicidade, é o alicerce para a descoberta de Deus.
No CNE, a Mística assume um crescendo, é um caminho que se vai percorrendo cimentando a fé, desde a descoberta da criação até à vida no Homem Novo.
Quando o Lobito descobre a natureza e a beleza das coisas, encontra nelas Jesus e ao encontrar Jesus encontra Deus Pai, Deus Criador, aprendendo a louvá-lo por ter criado todas as coisas belas do mundo.
A Mística dos Lobitos, “O Louvor ao Criador” procura que em cada criança desperte a descoberta de Deus à semelhança do que aconteceu ao seu Patrono, S. Francisco de Assis, que descobriu, em tudo, o amor de Deus e O louvou por cada uma das suas criaturas e por cada uma das suas obras.
“O Livro da Selva” de Rudyard Kipling é o Imaginário escolhido da 1.ª Secção.
“O Livro da Selva” e o “Segundo Livro da Selva” são uma compilação de fábulas nas quais podemos descobrir diversos personagens com características humanas que Kipling terá usado como crítica à sociedade indiana da época.
Nos vários capítulos, os Lobitos vão descobrindo um mundo fantástico habitado por animais que, consoante as suas características, desempenham papéis distintos na construção da sociedade em que estão inseridos. Cada uma destas aventuras vividas por Máugli e os seus amigos tem ensinamentos a serem extraídos, promovendo nos Lobitos, através da história e dos seus personagens, o desenvolvimento da personalidade, o desenho de objetivos pessoais e a construção da comunidade que é a Alcateia.
Assim, em cada personagem e em cada história, o Lobito vai descobrindo o mundo e vai, como o Máugli, crescendo e escolhendo o seu caminho e o seu lugar no mundo.
Na Alcateia, a vida na Natureza tem um valor pedagógico importante na medida em que é um espaço privilegiado para o jogo escutista e para a consciência da obra do Criador.
É o local de excelência para o Lobito desenvolver sentidos e capacidades e é nele também que cada criança descobre a magia da Selva, vivendo aventuras como Máugli viveu com a Alcateia de Seiôuni. De facto, através desta ferramenta poderosíssima que é Natureza, criam-se oportunidades para o crescimento pessoal e coletivo: o Lobito descobre-a, conhece-a, a respeita-a, manifesta a sua curiosidade e interage com o meio envolvente, desenvolvendo-se de forma saudável.
Perante a beleza da Natureza o Lobito começa também a descobrir Deus. A ligação ao mundo espiritual começa de facto a dar os primeiros passos através desta descoberta de Deus na Natureza e em tudo o que o rodeia, pois, para o Lobito a capacidade de abstração ainda não está muito presente e a observação da Natureza assume um papel fundamental. A Natureza espelha a simplicidade da beleza da obra da Criação, devendo o dirigente “ser o exemplo” no despertar em cada Lobito a contemplação das maravilhas da Criação e o respeito por tudo o que o rodeia.
Aprender Fazendo implica que o Lobito participe ativamente, promovendo-se assim o seu crescimento sendo crucial o acompanhamento e a dinamização feita pelo adulto. É também muito importante que o Lobito se sinta parte integrante do grupo, não existindo melhor forma para tal que levar a criança a assumir vários papéis na atividade.
Como se torna autónomo um Lobito? Ser, fazer, agir, aprender, escolher, decidir, avaliar, aplicar, envolver, vivenciar, mudar, liderar, reforçar, crer, amar… no fundo, CRESCER e ser FELIZ! Pela sua faixa etária, o Lobito sente a necessidade de experimentar, sentir, mexer e remexer… de viver os seus erros, de errar para aprender. Através das suas escolhas, decisões e erros, o Lobito é desafiado a assumir as suas responsabilidades. A sua autonomia provém, portanto, das suas escolhas e do respeitar das mesmas, nesse exercício de liberdade.
E quanto ao Dirigente? Aceitar, exemplificar, vivenciar, consciencializar, responsabilizar, educar, partilhar, fomentar, auxiliar, respeitar, informar, AMAR! Ser facilitador de experiências e impulsionador de emoções! Promotor de escolhas e respeitador de opiniões! Ser a consciência ativa do programa educativo e das suas intenções. Ser aquele que aceita, respeita e brinca! O dirigente é o amigo mais velho, o irmão que fomenta desejos e ensejos. É a proteção, é a mão que segura, mão invisível mas sempre presente! A mão que empurra para a frente. A mão que ampara a queda e enxuga a lágrima. A mão que acarinha e puxa para um abraço.
O Sistema de Patrulhas ajuda a dar forma ao método de educação natural e não formal pensado por B-P, na medida em que induz cada elemento a desenvolver-se pelo contacto natural com os outros.
O esforço em grande grupo e as tarefas individuais, tudo isso culmina em crescimento pessoal e coletivo aos mais diversos níveis da pessoa: em responsabilidade e solidariedade, em caráter e perseverança, em liderança e espírito de equipa, em democracia e escolha, em trabalho e ideias comuns, e claro, em camaradagem, cumplicidade e amizade!
Na Alcateia e nos Bandos, as crianças experienciam uma micro-sociedade com valores muito específicos – Lei, Máximas e Divisa – que se tornam comuns e se tornam também num código de vida, partilhado e vivido em comunidade. Enquanto brincam, interagem e realizam as Caçadas, assim se preparam para a vida “lá fora.”
O Progresso dos Lobitos está intimamente ligado ao imaginário da Selva, conciliando o desenvolvimento com a fantasia e apelando a uma viagem incrível em boa companhia. Assim se potencia uma maior compreensão das etapas e também um maior envolvimento por parte da criança: uma aventura onde sabe o que tem para fazer!
A criança recém-chegada à Alcateia, desde logo recebe a insígnia de PATA-TENRA. Tal e qual um pequeno lobo que se aventura a brincar não muito longe da mãe, desajeitado nos movimentos, com as “almofadas” das patas ainda fofas, irrequieto e curioso. Os Pata-Tenra são assim mesmo: os primeiros a formar em Bando e gritam Alaii com toda força, mesmo sem saber o que significa.
Mas esta criança sabe que não deve ficar por ali e logo deseja fazer mais para se tornar um LOBO VALENTE: maior e mais forte, mais arrojado para se afastar da mãe e dos irmãos e viver as suas próprias caçadas, em interação com outros animais, sem medo algum. São Lobitos que se mostram mais, dão ideias e assumem tarefas.
O que se segue? O LOBO CORTÊS: o pequeno lobo consciente da sua força que sabe, contudo, respeitar todos os animais. Um Lobito que sabe brincar sem magoar. Que sabe que ganhar e perder faz parte do jogo. Que respeita os mais fracos e os auxilia. Este é o Lobito que começa a ter consciência do seu exemplo.
Finalmente, o LOBO AMIGO. Este pequeno lobo quase adulto lidera os mais novos e auxilia na sua educação. Estes são os Lobitos mais crescidos, conscientes das suas capacidades e responsabilidades. Estes Lobitos sabem acolher os Pata-Tenra e mostrar-lhes o Covil. São o motor do grupo, liderando os mais novos no Bando e fazendo cumprir a Lei da Alcateia.
A afetividade é fundamental para o relacionamento com as nossas crianças e jovens, pois é a afetividade que permite, numa relação de confiança, abrir caminho para a aprendizagem através das interações que se estabelecem no quotidiano. Torna-se assim necessário que o dirigente aprenda a lidar com a dimensão afetiva tal como se aprende a lidar com outros aspetos de natureza mais cognitiva e num ambiente mais formal, como sejam o aprender a escrever, aprender matemática, etc. Podemos também afirmar que as relações afetivas e cooperativas, a solidariedade, a tolerância, a compreensão, a demonstração de respeito à diferença e de apoio por parte do dirigente, ajudam as nossas crianças e jovens a superarem todas as dificuldades.
Quando se fala em reforçar os laços afetivos, não são necessários grandes gestos ou ocasiões especiais, bastam pequenas coisas, momentos singelos. Amar em ação significa prestar atenção ao que se passa, estar atento aos pormenores de cada criança, promover um ambiente de confiança, fazer acontecer a proximidade, ver as coisas do ponto de vista da criança.